Como resolver 6 terríveis problemas do jardim

Aprenda a dissipar obstáculos que prejudicam as plantas, a casa – e o humor.

1 – O ataque da unha-de-gato
Ela é a mais dissimulada das espécies. Com ar delicado, como quem não quer nada, a unha-de gato, uma enrustida figueira usada como trepadeira em muros e fachadas, sofre modificações da fase jovem para a adulta. Suas folhas miúdas crescem e suas raízes ramificadas tornam-se grossas e agressivas, podendo comprometer alicerces e tubulações. Ao se deparar com a cortina verde formada pela espécie em um muro de 300 m, a paisagista Helena Justo manteve a escolha dos clientes e apenas retardou seu crescimento. “Basta mantê-la sempre jovem, com podas constantes, que não oferecerá riscos”, ensina Helena. Não quer dar mole para o azar? Vá de trepadeira falsa-vinha. Como a unha-de-gato, tem folhas lindas, mas raízes inocentes.

2 – Verde nas alturas – e em apuros
Coberturas de apartamentos são como o agreste para as plantas. Suportar sol em excesso e ventos fortes — condições estressantes de sobrevivência — só é possível com uma boa dose de irrigação. Que o diga o paisagista Luiz Portugal. No terraço de 118 m², com deque de ipê natural e piso de mosaico português, as espécies foram escolhidas pela resistência. Acerola, jabuticaba, capim-cidreira, camomila, gardênia… São frutíferas, ervas e arbustos aguados diariamente no verão e, nas outras estações, dia sim, dia não. O guarda-corpo de vidro — importantíssimo, no caso — barra a intensidade do vento sobre as plantas, o que reduz a perda de folhas perto da piscina. Vale lembrar: quase todas as espécies estão plantadas em vasos de chapa metálica, para não aumentar a sobrecarga. Somente os vasos aparentes são de cerâmica.

3 – Fícus, só em vaso
Podado em forma de bola, em meio à vegetação, mal se nota que o fícus, de tronco sinuoso e folhas brilhantes, é uma árvore de raízes grossas, profundas, longas e invasivas, capazes de estourar tubulações, abalar alicerces e deformar calçadas. A lista de pontos negativos, entretanto, pode ser eliminada com o simples tutoramento da árvore. Opte pelo cultivo em vaso para limitar seu crescimento, mesmo quando plantada na terra. Neste terraço de 40 m², com paisagismo assinado por Gigi Arruda Botelho, exemplares crescem dessa forma sem causar transtornos. “Conforme se desenvolve, a espécie deve ter suas raízes cortadas, em média a cada ano”, sugere a paisagista.

4 – Bichos e plantas: louca combinação
Quem já conhece o resultado da combinação cachorro e jardim pouco se entusiasma em ter uma área verde no quintal por onde circula o bicho de estimação. Em vez de lidar com folhas mastigadas, gramado com buracos e galhos quebrados, as paisagistas Claudia Diamant e Marina Domingues venceram a inquietude do golden retriever Chunck com um jardim minimalista de 150 m², dotado de materiais e plantas apropriados. A primeira dica de sucesso foi substituir a grama pelo resistente fulget de cor branca no piso. “Optei por grama-amendoim junto ao muro. A espécie suporta o pisoteio de cães”, diz Claudia. As plantas baixas deram lugar a exemplares altos e ornamentais — bambu-mossô, palmeira-ráfis, jasmim-manga e o pendente chifre-de-veado, entre elas. A exceção é a cica, mas suas folhas pontiagudas não são nada atrativas para o animal, que circula livre, leve e solto pelo jardim.

5 – Plantas na laje
Jardineiros de primeira viagem acumulam histórias malsucedidas a respeito de infiltrações e sobrecarga de peso em lajes. Com o paisagista Alexandre Fang foi bem diferente. Ele constatou que a laje de 127 m², já impermeabilizada e provida de drenos (dois problemas a menos), suportaria carga de até 500 kg por m² — o que não é pouco. Com folga nos números, 15 toneladas de pedras, entre pedriscos e seixos-batata, cobriram a área. Ainda assim, isso permitiu apenas 6 cm de profundidade, um trecho ocupado por pedras e plantas. A decisão por bromélias — cultivadas em trouxinhas de pano com substrato, imersas nas pedras — seguiu os seguintes parâmetros: leveza, facilidade de manutenção e possibilidade de reaproveitamento. Em caso de nova impermeabilização, repetida a cada 10 ou 20 anos, as espécies removidas poderão ser replantadas.

6 – Disfarçando o terreno vizinho
Imagine a cena: o seu jardim, de um lado, exibe plantas escolhidas a dedo, verdejantes e em pleno desenvolvimento. O jardim do vizinho, do outro, ostenta um terreno alto, malcuidado e apinhado de ervas daninhas. Ninguém quer isso, é óbvio. Esse era exatamente o caso do projeto da foto: o terreno limítrofe, a 1,60 m de altura, estava à vista. A dupla de paisagistas João Jadão e Cid Carvalho deixou de lado o muro convencional e venceu o desnível com dois planos de vegetação. A suave barreira exibe cercas vivas e plantas pendentes e ascendentes em um coordenado rigor de alturas e volumes. Toras de eucalipto autoclavado ajudam a conter a terra e dão graça ao conjunto. Dos 45 m de corredor, apenas 5 m foram fechados por um muro de canjica de pedras Goiás. Tudo em nome da privacidade dos moradores na área social.

Fonte: http://revistacasaejardim.globo.com/